Os 70 anos de Caetano Veloso já foram festejados com um CD tributo, com
regravações de 16 músicas suas (por Jorge Drexler, Tulipa Ruiz, Céu, Beck...) E
com um site comemorativo, com toda sua discografia (áudios, encarte e letras),
desenvolvido por sua gravadora, a Universal. Nesta quarta-feira, 14, a festa
será norte-americana. Ou melhor, latina.
Pelo conjunto de sua obra de cinco décadas, Caetano foi escolhido a
personalidade do ano da edição 2012 do Grammy Latino, realizada em Las Vegas. O
único brasileiro que o antecedeu na honraria (ano passado concedida à pop star
colombiana Shakira) foi o amigo Gilberto Gil, isso em 2003.
O Brasil, que nunca deu muita bola para o Grammy, não vai assistir quando o
compositor baiano for o centro de uma gala pré-cerimônia hoje, fechada a
câmeras, durante a qual ele será reverenciado - a premiação oficial acontece
quinta-feira, 15. Artistas de diferentes estilos e procedências, como Natalie
Cole, Nelly Furtado, Juan Luís Guerra, Juanes e Enrique Bunbury vão cantar seu
repertório - as músicas não foram divulgadas, para manter o espírito de surpresa
ao homenageado.
Maria Gadú, Seu Jorge e Alexandre Pires formam a turma brasileira, desfalcada
de última hora por Ivete Sangalo, que quebrou um osso do pé e desertou. Caetano
fechará a festa no centro do palco, com Não Identificado - a preferida de seus
pais.
Na quinta-feira, o TNT transmite ao vivo, a partir das 23 horas, a cerimônia
do Grammy Latino, da qual ele também vai participar. Com o músico cubano Arturo
Sandoval, vai de Odara e a canção porto-riquenha Capullito de Aleli, do CD em
língua espanhola Fina Estampa (1994).
O Grammy Latino tem 13 anos. O Grammy original - mais prestigiosa premiação
da indústria da música -, 54. Caetano possui oito gramofones dourados do
primeiro tipo e dois do segundo. Nessa edição do Latino, concorre em quatro
categorias.
Ele nunca esteve no Grammy. Em 2001, chegou perto, mas... “Eu me preparei
para fazer uma bela participação. Fui para Los Angeles de Nova York em 10 de
setembro. No dia 11, faríamos a apresentação. Ensaiei, com a banda do show
Noites do Norte, a canção 13 de Maio. Estava lindíssimo, eu estava
orgulhosíssimo! Mas aí meteram aqueles aviões no World Trade Center e não houve
apresentação”, contou ele, em entrevista há duas semanas, no Rio.
Ele chegou a Las Vegas domingo para os ensaios; mais uma vez, vindo de Nova
York. Antes da viagem, disse que se entusiasmava mais pela festa - na qual
aparecerá vestido no capricho pelo stylist amigo Felipe Veloso - do que pelos
louros.
“Eu nem gosto muito desse negócio de homenagem, prêmio. Não gosto quando tem
muita categoria, termino esquecendo quem ganhou o quê. Nunca vi a festa do
Grammy, não tenho muita ideia de como vai ser. Tenho um pouco de preguiça da
viagem, de ir a Las Vagas. É uma cidade tão insólita... Parece o Projac! Mas
gosto da festa, de ver as pessoas.”
O interesse pela música latina atual passa pelo colombiano Juanes, a dupla de
Porto Rico Calle 13, superpopulares e com forte presença no Grammy, e pelo
reggaetón da América Central. Mas vem bem mais de longe.
“Nós também somos latinos. No tempo do tropicalismo, eu encomendei a Gil e
Capinam uma canção que fosse sobre a América Latina, que tivesse no título ‘soy
loco’, mencionasse Che Guevara, ‘el hombre del hombre muerto’. Desde o início
era um tema importante para mim. Em Araçá Azul (1973) já tinha Tu me
Acostumbraste.”
Caetano acabou de gravar o CD Abraçaço, o terceiro com os jovens
músicos da Banda Cê (o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o
baixista Ricardo Dias Gomes). O lançamento será no fim do mês. São 11 faixas,
todas compostas por ele este ano, e uma inédita do tropicalista baiano Rogério
Duarte.
Mais tributo. Milton Nascimento, outro septuagenário de
2012, e Toquinho também serão laureados. Com outros artistas da região,
receberão da Academia Latina de Gravação o Prêmio à Excelência Musical, em
cerimônia hoje também, sem exibição pela TV. As escolhas saem de uma votação
entre os integrantes da direção da Academia.
O esforço visando a uma aproximação com o Brasil vem sendo crescente. A
barreira da língua, no entanto, é difícil de ser transposta. Falada em espanhol
e em inglês, a cerimônia é a maior celebração da cultura hispânica transmitida
pela TV nos EUA, país em que a proporção de latinos na população supera os 15%.
Oitenta milhões de pessoas do mundo inteiro a assistem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua mensagem e participe do CV Afiada!!