Talvez poucos conheçam José Datrino. Mas não há, no Rio, quem já não tenha
ouvido falar, ao menos uma vez, no profeta Gentileza. Ele já foi tema de filme,
livro, música. Agora, recebe homenagem da Companhia Crescer e Viver de Circo,
que transformou sua história em show circense. Se "existe amor em São Paulo", no
Rio o que estampa camisetas e adesivos é "Gentileza gera Gentileza".
Passados mais de 15 anos de sua morte, a figura de túnica branca e longas
barbas e cabelos continua no imaginário carioca. Para que não se perca,
organizadores de Univvverrsso Gentileza querem que ele vire "patrimônio afetivo
do Rio". Na pré-estreia do espetáculo, no início do mês, fizeram o pedido a
Washington Fajardo, presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.
Fajardo disse que essa categoria de patrimônio ainda não consta na lei
municipal e prometeu estudar o assunto. A peça mostra a trajetória do homem
nascido em Cafelândia, interior paulista, que se mudou ainda jovem para o Rio e
teve a vida transformada em 1961, após o incêndio criminoso no Gran Circus
Norte-Americano, em Niterói, que deixou centenas de mortos. Datrino abandonou
empresa, mulher e filhos e foi montar um jardim sobre cinzas do circo.
Considerado louco por uns e poeta por outros, viveu anos como andarilho, fazendo
pregações pela cidade, distribuindo flores e deixando mensagens de amor e
solidariedade nas pilastras do Viaduto do Gasômetro, no centro do Rio. Apesar de
o governo planejar a remodelação da área, com o fim da Perimetral, todas as
pilastras com escritos serão preservadas.
Segundo um dos coordenadores da companhia circense, Vinícius Daumas, a ideia
da montagem foi inspirada na leitura do livro UNIVVVERRSSO GENTILEZA, de
Leonardo Guelman. "A gente hoje faz com o circo aquilo que ele fez durante
muitos anos sozinho, tentando passar mensagem de gentileza, de amor. Parece um
ciclo que se fecha, é a volta do profeta ao circo, mas não um circo queimado, e
sim vivo", disse Daumas. Trata-se da segunda montagem da peça, encenada pela
primeira vez em 2008.
Vida. No palco, 15 artistas fazem referência a esses e
outros episódios do "profeta", como internação em hospitais psiquiátricos e
restauro de seus escritos após a Companhia de Limpeza Urbana "limpar" o viaduto
em 1997. Muitos dos jovens artistas são provenientes de comunidades carentes da
capital e litoral fluminense que participam do Programa de Formação do Artista
de Circo, da Crescer e Viver.
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