Sugestão da convidada da noite, Cris Bindewald
Filme do romeno Radu Mihaileanu retrata a perseguição dos nazistas aos judeus em tom de realismo fantástico
Por Sergio Vaz
Fazer uma comédia sobre a perseguição dos nazistas aos judeus é um ato de coragem. Mas “Trem da Vida”, que o diretor romeno radicado na França Radu Mihaileanu realizou em 1998 é mais ousado ainda que uma simples comédia, porque é um filme não realista – é uma farsa, uma fantasia, uma obra de realismo fantástico, do surrealismo, quase um nonsense.
Um ano antes de “Trem da Vida”, o italiano Roberto Benigni havia feito uma comédia sobre o mesmo tema, “A Vida é Bela”, um filme de grande sucesso e, na minha opinião, um tanto superestimado, com seus três Oscars, outros 52 prêmios e 31 indicações.
Não que Benigni tivesse, é claro, inventado a roda. Os judeus – assim como os ciganos, homossexuais, portadores de deficiência – ainda estavam sendo presos e enviados para os campos de concentração quando Charles Chaplin fez “O Grande Ditador” (1940) e Ernst Lubitsch realizou “Ser ou Não Ser” (1942), duas comédias ácidas, duras, mas comédias, sobre o nazismo.
O grande diferencial de “Trem da Vida”, me parece, é o fato de ser uma narrativa nada, nada realista. E, nisso, ele foi um precursor de uma série de filmes que seriam feitos nos países surgidos dos escombros do comunismo, como a Geórgia e, em especial, a própria Romênia natal de Radu Mihaileanu. Filmes que denunciam, com extrema violência, imensa virulência, o outro regime totalitarista que dominou diversos países europeus ao longo de várias décadas do século XX.
Era como se aqueles diretores, que viveram sob as ditaduras comunistas, tivessem tanto ódio do totalitarismo imposto pelo império soviético que se insurgiam também contra o estilo narrativo que o Estado comunista exigia, o realismo socialista, optando pelo oposto dele – um estilo surrealista, quase nonsense.
Como já escrevi aqui: Em “Os 27 Beijos Perdidos”, feito por Nana Djordjadze em 2000 na Geórgia, a terra natal de Stálin, há um navio que passeia pelas ruas da pequena cidade e pelos campos ao seu redor, um marinheiro que perdeu o mar, um oficial que manda a artilharia disparar seus canhões em direção ao local em que sua mulher o trai com outro homem, um sujeito que amarra rolamentos no pauzão de 27 centímetros e depois não consegue tirá-los de lá e a cidade inteira tem que acudi-lo; e, numa sequência antológica, um camarada que está comendo uma mulher de pé, encostando-a numa mesa, usa, para ficar mais alto e facilitar o trabalho, dois livrões de Karl Marx sob os pés – livros que em seguida vão pegar fogo.
Em “Casamento Silencioso”, feito em 2008 na própria Romênia, a narrativa do diretor Horatiu Malaele passeia pelo paranormal, vê fantasmas, bota os atores para atuar como que em um teatro farsesco, faz um surrealismo que deixaria Fellini humilhado de inveja.
Ficha Técnica:
TREM DA VIDA(Train de Vie, França / Bélgica / Holanda / Israel / Romênia, 1998).
Direção e roteiro: Radu Mihaileanu.
Elenco: Lionel Abelanski (Shlomo), Rufus (Mordechai), Clément Harari (o rabino), Michel Muller (Yossi), Agathe de La Fontaine (Esther), Johan Leysen (Schmecht), Bruno Abraham-Kremer (Yankele), Marie-José Nat (Sura), Gad Elmaleh (Manzatou).
Comédia / Drama / Romance.
103 minutos
Leia mais em http://cinezencultural.com.br/site/2012/01/23/trem-da-vida-mais-ousado-que-uma-simples-comedia/
Assista ao Filme:
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