“Desculpem, Brazukas… Não há status em um Toyota Corolla, Honda Civic, Jeep
Grand or Dodge Durango. Não se deixe enganar pagando o preço de tabela.
Definitivamente, você está sendo enganado”.
Nesse tom jocoso e irônico, o jornalista Kenneth Rapoza, da revista Forbes, conta aos leitores do seu
blog o que ele pensa dos altos preços de carros no Brasil.
A tese dele é de que os impostos altos e a ingenuidade dos consumidores – que
aceitam pagar caro por acreditar que os veículos são sinal de status social –
explicam por que os automóveis chegam a custar três vezes mais no País do que
nos Estados Unidos.
“Alguém pode achar que se um Jeep Grand Cherokee custa US$ 80 mil significa
que ele vem equipado com asas e com rodas banhadas a ouro. Mas, no Brasil, ele
vem na versão básica”, afirma o jornalista. O veículo citado custa, na verdade,
ainda mais no mercado brasileiro: US$ 89,5 mil. Já nos EUA, sai por US$ 28
mil.
Rapoza lembra que, além de pagar mais, os brasileiros ganham menos. No caso
do carro mencionado, o preço nos EUA equivale a metade da renda anual média dos
americanos. Já o valor cobrado no Brasil corresponde a mais do que o salário de
um ano de um morador do País.
Por que é caro
Curioso é que Rapoza sugere a leitura de um artigo do site Notícias Automotivas que defende uma tese bem
diferente da dele. O texto do portal brasileiro enfatiza o lucro das montadoras,
não os impostos, como uma razão do preço alto do carro.
O que acontece, conforme escrevi em
outra oportunidade, é que tanto o “custo Brasil” (no qual se
incluem os impostos) como o “lucro Brasil” explicam a situação.
Aqui, os impostos sobre automóveis são bem mais altos que nos EUA e na
Europa. Eles equivalem a 30,4% do preço médio de um carro, segundo a Anfavea
(associação dos fabricantes nacionais). Na Itália, no Reino Unido, na França e
na Alemanha, essa proporção varia entre 15% e 17%. Nos Japao, é de 9,1%; nos
EUA, de 6,1%.
Pior é que, mesmo se descontarmos os impostos, os carros aqui continuam mais
caros do que nos EUA e na Europa, conforme um levantamento que fiz com ajuda do
consultor Luiz Carlos Augusto, especializado em veículos, há um ano.
Considerando os dados desse estudo da Anfavea, o Chevrolet Malibu, por exemplo,
custaria R$ 57.176 sem impostos, preço mais alto do que os R$ 38.840 cobrados
nos EUA (com impostos).
Também reforça a tese de que os fabricantes conseguem ganhar mais em cima dos
consumidores brasileiros um estudo
do banco Morgan Stanley. A instituição financeira concluiu: “Os
dias de lucros mais altos que o normal vindos [das montadoras] do Brasil parecem
estar chegando ao fim. [...] As margens [de lucro] devem ficar sob pressão”.
Essa estudo indica que, historicamente, quatro maiores montadoras instaladas
no Brasil dominavam o mercado nacional com folga, mas agora, com a concorrência
dos veículos asiáticos, as margens de lucro tendem a cair.
Se pensarmos de modo amplo, o que acontece é uma parceria não escrita entre o
governo e as montadoras. As empresas aceitam pagar imposto alto e, em troca, têm
a garantia de que as tarifas de importação serão ainda mais altas, minando a
concorrência externa e permitindo aos fabricantes do País vender um carro caro e
menos equipado do que os estrangeiros.
Vaidade
Rapoza não é o primeiro – e certamente não será o último – a dizer que a
busca por status social pelos é um dos fatores que colocam os preços lá em
cima. O jornalista Andrew Downie recentemente reuniui em uma reportagem no International Herald Tribune
depoimentos de diversos profissionais do mercado de luxo segundo os quais a
vaidade ajuda a encarecer os produtos no Brasil.
Fonte: Estadao
Comente!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua mensagem e participe do CV Afiada!!